sexta-feira, 15 de julho de 2016

Zeitgeist

Dia desses vi uma entrevista do Dustin Hoffman falando sobre o papel que fez no filme tootsie. Trata-se de uma comédia em que o ator interpreta um ator mal sucedido que não consegue trabalhos, pura metalinguagem, até que se transveste de mulher e torna-se o protagonista de uma novela.
Dustin, à época, disse ao diretor que só faria o filme se realmente se convencesse de sua transformação, se se olhasse no espelho e visse ali uma mulher de verdade e não um homem transvestido.
         
Após várias testes de maquiagem se olhou no espelho e não se convenceu de sua transformação, não pelo fato de não parecer uma mulher, mas sim porque era uma mulher não atraente, pelo menos não no conceito que sempre entendeu como atraente.
               
Diz que ao chegar a sua casa teve uma epifania e começou a chorar. Não por ser uma mulher feia, mas por, apesar de não achar que seu padrão se encaixava ao estabelecido na sociedade, era uma personagem muito interessante, uma mulher interessante. Disse à sua mulher: "Há muitas mulheres interessantes que eu não tive a chance de conhecer nesta vida, porque eu tinha sofrido uma lavagem cerebral".
                
Vivemos num zeitgeist pavoroso, é certo que isso tem mudado, mas ainda existem células de resistência, a curva de evolução teve uma queda com a recente onda de ódio que experimentamos nas redes sociais.
                
Pensem em quantas experiências deixamos de viver pelo simples fato de sermos preconceituosos com o que é diferente do padrão imposto pela sociedade. Quantas vezes atravessamos a rua ao nos depararmos com pessoas que não externam o padrão social imposto. Em quantos eventos deixamos de comparecer pelo simples receio de enfrentar o diferente.
                
Esse é um grande motivo para temos nos tornado uma sociedade de extremos, polarizada. Sim, aceito que jamais tivemos um período de tanta inclusão, mas conversando com pessoas vejo que essa aproximação segue sendo superficial, ainda há uma resistência no íntimo de muitos.
                
A mudança precisa vir do íntimo da sociedade, não basta praticar o moralmente aceitável, isso é roubar no jogo. A mudança precisa se dar de dentro pra fora.

                
Vamos brigar por isso, a vida é feita de experiências, não deixemos que meros conceitos da massa façam com que percamos esses momentos essenciais para nossa evolução. Toda massa é burra, e a vida é feita de experiência. Sendo assim, não perca o principal da tua vida atrás da burrice alheia.

Por PedroGM

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