O pequeno escrito a seguir é continuação deste
Postando anteriormente no Blog
Sem ler aquele, este não vai ter o menor significado...
Boa leitura
Era pra ser
mais um dia monótono como todos os outros, acordou com a claridade em seu
rosto, sabia que isso era sinal de que estava atrasado novamente. Virou de lado
e viu que o rádio relógio dava razão ao seu sentimento, já perdera a hora, já
passara das sete.
Há muito
tempo não se importava tanto com isso, se fosse há alguns anos sem duvida
levantaria da cama num salto, vestiria a primeira roupa que encontrasse, poria
a escova e pasta de dente no bolso e dirigiria o mais rápido possível até o
trabalho, sabendo que já estava atrasado e que o esporro já era garantido.
Mais um dia
de chuva na cidade, não bastava acordar atrasado e ter que fazer tudo as
pressas, ainda teria que enfrentar mais de uma hora de congestionamento. O
trânsito já era insuportável em dias de sol, quando chovia então, os ogros
saiam das cavernas.
O escritório
da empresa ficava em um prédio no centro da cidade, uma construção que um dia
já foi motivo de orgulho para a arquitetura local, mas que hoje era um símbolo da
decadência de tudo que já fora belo e hoje era esquecido pelo tempo.
Chegando ao
trabalho, aliás, ensopado, finalmente teve o primeiro momento de alegrai em seu
“excelente” dia, o supervisor carrasco não fora trabalhar.
Passando
pelas baias (o supervisor insistia em chamar de escritórios individuais),
balançando levemente a cabeça para cima para cumprimentar os colegas, até que
passou pela única luz que ainda enxergava naquele lugar – mesmo ela não sabendo
que tinha essa importância toda.
Era uma
garota incrível, um pouco fechada é verdade, mas exalava uma aura que a
diferenciava de todos ao seu redor. Nunca tivera coragem de conversar com ela
assuntos que não fossem relacionados com o trabalho, nunca foi muito popular
com as garotas.
Diversas
vezes passou pela frente de sua casa, ensaiou uma visita, mas sempre que
ingressava o pátio e chegava próximo da porta ouvia latidos o repelindo, vindos
do interior da casa – sabia que não era um bom sinal, se o animal de estimação
não ia com sua cara, tinha poucas chances com a dona.
Gostava muito
de observar as pessoas, perceber seus trejeitos, suas manias, mas nunca tinha
chegado ao ponto que chegou com ela. Diversas vezes a seguiu no caminho para
casa – é claro, na intenção de se aproximar como qualquer pessoa faria – sabia
que ela geralmente ia trabalhar de bicicleta, que em dia de chuva pegava o
transporte público, mais precisamente dois ônibus no trajeto. Já a observara em
livrarias e cafeterias, locais esses que a deixavam ainda mais interessante.
Hoje estava espetacular,
da forma simples como só ela conseguia ficar. Vestia um pesado casaco para
chuva, calças jeans e botas – Tão bela na sua simplicidade.
Ela nem o
olhou quando passou – tudo bem, era assim com todos. Ele tinha certeza de que
ela só precisava de alguém que realmente a compreendesse, e ele estava disposto
a ser essa pessoa.
Seguiu até
sua baia e começou a procrastinação diária, apenas aguardando o relógio bater
dezoito horas para que pudesse voltar para sua vida miserável.
A chuva batia
nas janelas, o vento pressionava os pingos contra o vidro. Como gostava desse
clima, o barulho da água caindo e o ar fresco que a chuva trazia sempre o fazia
ter belos momentos de reflexão. Nesse ambiente sempre se fechava ainda mais em
seu casulo, hermeticamente trancado em seu mundinho de pensamentos
revolucionários e nada concretos.
Imaginou-se juntamente com ela, um
completando o outro, sentados à beira de uma lareira, lendo um livro, tomando
um vinho, um ambiente aconchegante, apesar do frio que vinha de fora.
Pronto,
estava decidido, esse era o dia perfeito, o clima ideal, era um momento de
mudança, da tomar as rédeas da situação. Hoje a abordaria, oferecer-lhe-ia uma
carona para casa, inventaria qualquer desculpa no caminho, pararia numa loja de
vinhos, compraria o vinho perfeito – se tinha bom gosto para algo, era para
vinhos – não tinha como dar errado, e se desse? Não tinha nada a perder.
O dia passou,
o devaneio foi profundo, só pensou na noite que teria, planejou cada detalhe.
Ergueu os olhos para o relógio, viu que era o momento, levantou-se e foi até
ela.
- Droga.
Tarde demais.
Ela já havia
saído. Mas a vontade era maior do q esse simples detalhe, já foi até a casa
dela antes, dessa vez bateria na porta e daria um passo adiante.
Saiu do
trabalho, passou em uma loja de vinhos, como planejado, escolheu o melhor
Cabernet Chileno que conhecia, comprou bombons e seguiu para seu destino.
BAROOM! BARUUUMM – trovejava.
O inevitável
aconteceu, ao estacionar do outro lado da rua, em frente a casa dela, travou, o
pânico e ansiedade tomaram conta de seu corpo. Observou por alguns minutos. Uma
luz do andar de cima da casa estava acessa.
- Deve ser o banheiro – pensou.
Não deve
fazer muito tempo que chegou a casa, afinal, pegar duas conduções em um dia
como esse não é nada fácil – Se pelo menos ele tivesse sido mais rápido, teria
lhe dado carona e ainda teria marcado alguns pontos, além de uma desculpa para
lhe convidar para algo.
Resolveu
esperar, sem dúvida bater na porta e obriga-la a sair do chuveiro para atender
a porta não era uma boa estratégia.
Esperar nunca
foi problema, muitas vezes quando estava entediado em casa dirigia até ali e
esperava, ensaiava uma visita, pensava no que falar, criava a expectativa de
que ela sairia e ele inventaria uma desculpa qualquer para encontrá-la “por
acaso”.
Todas as
vezes que criou uma coragem a mais da qual corriqueiramente possuía, e
conseguiu chegar perto da porta, foi repelido pelos latidos do cão – que pelo
jeito jamais aceitaria sua presença dentro de seu lar.
Adormeceu.
Não mais chovia, não havia mais hesitação,
medo era um conceito tão distante quanto a porta um dia pareceu ser. Espera,
não era mais, a porta estava logo ali. Ele bateu. Ela atendeu. Convidou-o a
entrar, sentar no sofá, serviu-lhe um vinho e antes que ele pudesse falar
qualquer coisa, ela se declarou, disse-lhe o quanto ensaiou esse momento, o
quanto esperou que ele batesse em sua porta, o quanto necessitava de sua
presença.
Acordou.
Estava em
frente à porta – Essa foi à vez que chegara mais longe, precisou estar dormindo
para caminhar até ali – a luz da sala estava acesa, o cão não latia. Será que
finalmente chegou o momento, o sinal estava aberto.
Então, a luz
da sala se apagou, a do corredor foi ligada... Desligada... a do quarto foi
ligada e derradeiramente desligada.
Sem dúvida
perdeu a janela de aproximação, se era inoportuno bater à porta no momento do
banho, quando já estava na cama então, prestes a dormir, seria um ato sem
volta.
Baixou a
cabeça, refletiu por alguns minutos – pelo menos foi o que pareceram – retornou
ao carro e ali permaneceu, em estado catatônico. Tudo que planejara durante
todo o dia se desfez por pequenos desencontros, pequenos momentos de hesitação.
Então, uma
luz se fez, em sua cabeça e no cômodo da casa que já havia estado iluminado
horas atrás. No exato momento que levantou os olhos para àquela janela ouviu um
grito, não um grito qualquer, mas o grito mais horripilante que já ouvira na
vida, só não foi pior, pois um relâmpago o abafou no exato momento em que foi
expelido por ela.
- AAAAHHHHHH!
BAROOOM!
Por PedroGM
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